O oficial de justiça pegou o maço todo e o entregou ao presidente.
- De que maneira esse dinheiro foi parar em suas mãos... se de fato é o mesmo dinheiro? - proferiu surpreso o presidente.
- Eu o recebi de Fulano*, o assassino, ontem. Eu o visitei antes que ele se enforcasse. Foi ele quem matou meu pai, e não meu irmão. Ele matou, e eu o ensinei a matar... Quem não deseja a morte do pai?...
- O senhor estará em seu perfeito juízo? - deixou escapar involuntariamente o presidente.
- O problema é que estou em meu perfeito juízo... e em meu torpe juízo, assim como o senhor, assim como todas essas... carrancas! - voltou-se de chofre para o público. - Mataram meu pai, mas ficam aí fingindo que estão assustados - rangeu os dentes com um desdém furioso. Cheios de nove-horas. Loroteiros! Todos desejam a morte do pai. Um réptil devora outro réptil... Não houvesse o parricídio, e todos ficariam zangados e sairiam por aí furiosos... Um circo! "Pão e circo!" Aliás, eu também sou uma boa bisca! Será que existe água aqui? dêem-me um copo, por Cristo! - subitamente pôs as mãos na cabeça.
(...)
* Suprimi o nome em respeito a quem ainda não leu o romance.
Dostoiévski, Fiódor. Os irmãos Karamázov. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2008. (Vol. 2), p. 888.
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