Bom, essa é uma postagem extraordinária, como aqueles boletins do plantão da Globo. Extraordinária pelo menos para mim, que não esperava nem pensava postar algo dessa forma. Mas como o assunto entrou em pauta no Mural do Patosonline, então eu vou publicar. Antes de tudo, presto apenas alguns esclarecimentos:
Como falaram em Allyrio Meira Wanderley - e eu me meti na conversa -, entre uma fala e outra trocada, o muralista Souza Irmão me pediu que fizesse um texto biográfico. Ora, já existem alguns circulando, escritos por ilustres patoenses, mas muito ruins (definitivamente!). Eu não quero escrever um "mais do mesmo". Então aproveitei um e-mail que enviei para uma professora Doutora há certo tempo, fiz algumas edições e vou dispô-lo aqui. Omiti alguns nomes e informações para proteger o meu anonimato e deixar de lado as outras pessoas envolvidas (algo que, creio eu, nesse momento não assume grande relevância). Onde eu coloquei Lau Cariri, é claro que no lugar estava meu nome verdadeiro. E onde estão as lacunas, no e-mail estava tudo completo. É texto mais acadêmico, me perdoem, mas acho que isso pode substituir a biografia.
Saudações, caríssima _________
Hoje, 24 de janeiro, eu fazia uma busca de rotina na internet acerca de Allyrio Meira Wanderley, cruzando o nome dele com outras referências. Quando usei, junto no critério da busca, o termo "Monte Brito", pseudônimo com qual assinou vários rodapés em jornais na década de 1940, o buscador apontou para o banco de teses e dissertações da ______ e lá encontrei sua tese de doutoramento. Não a li por inteiro, afinal, estou com ela há menos de 15 minutos, mas pude "sentir" do que se trata. Evidentemente, fui direto à procura de onde havia a tal referência. E para minha alegre surpresa, vi que o contexto onde estava citado o nome do Autor era o mais bem localizado possível: os projetos de brasilidade na Era Vargas. Nunca empreendi uma pesquisa inteira sobre a relação da obra de Allyrio Meira Wanderley com esse tema tão atraente e tão em ascensão na pesquisa histórica brasileira atual, mas já ensaiei alguns passos e tenho outras idéias, muitas mesmo (pois acerca de Allyrio, que além de filósofo e crítico literário, também foi romancista, é possível traçar relações e confluências de sua literatura com as idéias do jovem Lukács d'A Teoria do Romance e com as obras de Thomas Mann e de Dostoiévski no que dizem respeito aos projetos de modernidade, cultura, ideologia, política, moral e Progresso discutidos por estes escritores).
Como sua tese foi defendida em 2002, e já se vão por volta de 6 anos, espero que tenha obtido mais informações sobre Allyrio, sobretudo agora que é professora de História da UF____. E aqui, permita-me que me apresente. Meu nome é Lau Cariri, sou recente _____________ pela UF___. Sob orientação do Prof. __________, defendi minha monografia de conclusão de curso "Entre a Literatura e a História: Uma Contribuição ao Tema a Partir da Obra Bolsos Vazios de Allyrio Meira Wanderley" em outubro passado. Neste trabalho, que tem de tudo um pouco, na terceira parte há uma avaliação dos projetos de ideologia, política e cultura no referido romance. Lembro-me que enquanto escrevia o trabalho, a quantidade de referências que encaixavam a literatura de Allyrio dentro da perspectiva dos projetos de brasilidade das primeiras décadas do século XX no Brasil eram enormes, principalmente no quesito da discussão de uma possível arte brasileira, da sua forma e conteúdo específicos, além de um grande diálogo sobre a aceitação ou rejeição dos vanguardismos (só para localizar, o romance Bolsos Vazios foi escrito em 1928). Não foi tão difícil, portanto, encontrar proximidade com os debates de natureza semelhante, em contexto particular, é claro, presentes n'A Montanha Mágica, de Thomas Mann.
Bem, retomando… como dizia, espero que tenha obtido mais informações sobre esse autor com sua presença na UF____, uma vez que Allyrio era paraibano (da cidade de Patos, no sertão, que é o lugar, por sinal, de onde lhe escrevo agora). Sou pesquisador de sua obra há algum tempo e já tive a oportunidade de ler seus romances e seus ensaios de sociologia, crítica e teoria literária e de filosofia. Você mencionou As Bases do Separatismo quando se referiu ao período Vargas e a construção do projeto nacional. De fato, nesse livro, há uma radicalização do discurso contra a unidade brasileira e que foi reprimida ainda no ano da publicação (já cheguei a ler a nota emitida pelo DIP onde considerava o livro de subversivo e comunista e que por tais razões cassava a obra e processava o Autor - de modo que Allyrio foi mesmo processado e até se refugiou na região do Pico do Jabre, próximo a Teixeira, enquanto não foi absolvido das acusações).
Bem. Com todo esse palavreado, é possível que você só esteja pensando em qual seria a intenção desse e-mail. Direi. Sou pesquisador de Allyrio, mas encontro muitas dificuldades em juntar material de pesquisa assim como manter um respaldo acadêmico para pesquisá-lo. Digo isso porque quando iniciei meus estudos para a monografia, o maior problema encontrado foi não ter referências para minhas observações e análises. Allyrio é pouquíssimo conhecido e isso cria uma barreira para manter um diálogo com outras leituras já feitas sobre seus livros e com as quais eu possa comparar e tomar como embasamento. Isso me motivou a quase que encampar uma missão de tornar Allyrio visível e, através de contatos que venho estabelecendo, tenho conseguido resultados bons. Nunca foi meu objetivo a atitude mesquinha de, como se tivesse achado uma mina de ouro, esconder Allyrio Meira, mesmo sabendo que suas obras "dão pano para mangas" e trabalhos sobre elas são inéditos. Durante esse tempo, estabeleci contatos que muito ajudaram. Espero ter encontrado em você mais uma grande ajuda.
Minha proposta é que estabeleçamos um diálogo. Quando escrevi minha monografia, havia estudado em disciplinas do curso a historiografia brasileira do século XX, coisa que me permitiu muitas das análises que encaixam Allyrio no contexto que você mesma aborda no momento inicial da sua tese. Mas ainda assim, considero as análises presentes no meu texto defasadas quando comparo com o que já "ruminei" desde então e com o que adquiri com esse tempo passado. Penso que com certeza suas leituras mais abrangentes no tema sejam capazes de agenciar a relação "Allyrio-Contexto de formação da brasilidade no início do século XX" de maneira mais eficaz e me ajudarão deveras. Ressalto, ainda, que para além dessa minha sugestão podem e devem prevalecer seus próprios interesses quando tomar contato com Allyrio e avaliar o que sua obra pode efetivamente lhe dizer e como pode conversar com as pesquisas desempenhadas atualmente por você.
Imagino, é claro, que você tem muitas ocupações como professora da UF___ e que elas até impeçam seu empenho nessa proposta. Mas pela afinidade que à primeira vista se estabelece entre os temas, creio que seja sim de seu interesse.
Portanto, antes mesmo de terminar, é possível até crer que tudo isso que acabei de falar sobre Allyrio Meira já seja de seu conhecimento, e talvez você já tenha mais idéias e sugestões diante do que encontrou. Isso seria ótimo! Então, pergunto agora: além daquela informação presente na sua tese, já pesquisou algo mais? A questão é importante porque só assim posso avaliar como posso ajudá-la fornecendo algumas coisas de que disponho - e de como você pode me ajudar também.
Aguardo resposta.
Agradeço sua atenção.
Mui respeitosamente,
Lau Cariri
PS: outra coisa que o buscador apontou quando cruzei as mesmas referências de que falei acima foi um artigo de Graciliano Ramos para o jornal carioca O Jornal publicado como se fosse uma carta endereçada a Allyrio que se encontra na Biblioteca do Centro Universitário Claretiano. Eles puseram um trecho na internet que eu colo agora (Monte Brito era o próprio Allyrio usando pseudônimo. Ou seja, quando Graciliano, escrevendo a Allyrio, diz que tem procurado Monte Brito, "esse seu amigo", fala é do próprio Allyrio de maneira indireta para o próprio Allyrio (a redundância fez-se necessária mesmo). Sei que Allyrio Meira era um sujeito de índole forte e duro nas convicções, daí minha conclusão):
400 / N.2/2001 [ Artigo ]
O JORNAL-RJ.. Carta a Allyrio,Graciliano Ramos.. Teresa-Revista de Literatura Brasileira2-USP., , n. N.2/2001, 2001.
Resumo:
Tenho procurado avistar-me com monte Brito,mas esse seu amigo ‚ vaporoso,‚ abstrato,abala-me as conviccoes,atira-me ao idealismo,insinua-me a suspeita de que um ser livre de carne e osso ‚ capaz de escrever extensos rodapes..... Anual.... Preto....
Palavras-chave:
GRACILIANO RAMOS; LITERATURA; CARTA A ALLYRIO..Biblioteca - Centro Universitário Claretiano 001
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