Quase não escrevo sobre política, menos ainda sobre escândalos políticos. Não consigo digerir os discursos políticos. Mas por vezes, os discursos que, ao ouvir, vomito novamente são tão impressionantemente mal-construídos que tenho vontade de lhes mostrar os alicerces na areia movediça. Mais ainda, quando diz respeito aos detentores da tirania que assola o Vale do Sabugy, terra onde nasço a cada dia para uma nova espécie de liberdade. Após o furdunço que provocou as matérias publicadas pela Folha de São Paulo na terça, 05, e endossadas pelo Correio Braziliense ontem, quarta, 06, ontem, ainda, o senador Efra-Imorais (assim o chamava o saudoso Chico Pereira em suas oportunas colunas no Correio da Paraíba) fez um pronunciamento na tribuna do senado que começou por volta das 17:30h e, adicionado de vários e muitos vários adendos e apartes dos colegas, terminou perto das 19h.
O pronunciamento do senador, enxugado das esperadas e recauchutadas bravatas em defesa da reputação política, tentou desabilitar as equipes de reportagem dos respectivos jornais, julgando improcedente a notícia. O senador utilizou uma velha - e muito velha - armadilha retórica, usada, pelo menos, desde Sêneca, conselheiro de Nero, que é a de se adiantar às investigações dos órgãos competentes. Ele disse "autorizar" - palavra dele - a Polícia Federal e o Ministério Público a investigarem suas contas e ligações. Depois, o senador tentou se eximir da culpa pelos contratos com os sites paraibanos - sendo um deles do seu primo, Glauco, no valor de 120 mil reais - alegando que não o primeiro secretário, mas toda a mesa diretora é responsável pela fiscalização de contas. Terminado o pronunciamento os apartes dos senadores foram controversos: os seus companheiros de partido e ala no senado, obviamente que ficaram do seu lado, elogiaram e defenderam o senador.
Penso que um primeiro elemento a ser rememorado para o senador é que a Polícia Federal e o Ministério Público não precisam da "autorização" de ninguém para proceder a investigações.
Até onde assisti, pude salvar os apartes dos senadores Aloizio Mercadante e Eduardo Suplicy (ambos PT-SP) que, mui cordialmente, elogiaram a atitude de antecipação do senador, mas enfatizaram o pedido de cancelamento dos contratos em suspeita, até que vigore a certeza (Mercadante) e até de extinção dessa espécie de contratos de propaganda, já que o Senado dispõe de três grandes veículos de divulgação, amplamente acessados pela população (Suplicy). A isso, Efraim respondeu que se a Justiça não mandou cancelar o contrato, não é necessário fazê-lo, no que comete o impropério de deixar implícita a idéia de que irregularidades não corrigidas exteriormente ou não punidas podem continuar a existir tranqüilamente, ainda que quem as cometa saiba de seu caráter irregular.
A esses, ainda se juntou o senador José Nery (PSOL-RR) para fazer uma crítica mais ampla aos serviços terceirizados dentro do senado e questionar o senador dos DEMO-PB sobre o seu trem da alegria particular no Senado. Efraim realmente foi infeliz nessa resposta, primeiro alegando que o nepotismo não é ilegal, sobre o que poderíamos remeter às mais simples aulas de Ética do Direito, ou até de Direito Consuetudinário: o que é legal não esgota o que é moral, que, por sua vez, não esgota o que é ético. Ou seja, a lei não dá conta da ética. Posturas éticas estão acima de posturas lícitas. Não é porque a lei não se pronuncia sobre determinado caso que o indivíduo deixa de ter uma posição específica sobre o caso. É como se ele dissesse assim: “Meninos, nepotismo não é ilegal. É só imoral!” (?)
No caso em questão, faz parte de uma postura subjetiva do senador defender o patrimonialismo - a tanto tempo, denunciado popular e academicamente; e sugiro para ele e todos a leitura de Os Donos do Poder, de Raymundo Faoro. Além disso, o senador usou a conduta alheia para justificar a própria, identificação peculiar do imaginário, como diria a psicanálise lacaniana. Remetendo ao caso da prefeitura de João Pessoa, cujo prefeito, Ricardo Coutinho (PSB), segundo Efraim, mantém quatro irmãos como secretários ou cargos similares, ele tentou justificar essa conduta provavelmente no Vale do Sabugy, já que ele disse que se falava muito disso “em minha terra”.
Ainda teve a lembrança que o senador Paulo Duque (PMDB-RJ) lhe trouxe de que é atribuição específica do primeiro-secretário, e não de toda a Mesa Diretora, a fiscalização das contas. O que esperar então se quem deveria fiscalizar é o primeiro a, pelo menos, fazer vista grossa para contratos de terceirização de serviços que, além de desnecessários, não passaram por um processo transparente de licitação?
O pronunciamento do senador, enxugado das esperadas e recauchutadas bravatas em defesa da reputação política, tentou desabilitar as equipes de reportagem dos respectivos jornais, julgando improcedente a notícia. O senador utilizou uma velha - e muito velha - armadilha retórica, usada, pelo menos, desde Sêneca, conselheiro de Nero, que é a de se adiantar às investigações dos órgãos competentes. Ele disse "autorizar" - palavra dele - a Polícia Federal e o Ministério Público a investigarem suas contas e ligações. Depois, o senador tentou se eximir da culpa pelos contratos com os sites paraibanos - sendo um deles do seu primo, Glauco, no valor de 120 mil reais - alegando que não o primeiro secretário, mas toda a mesa diretora é responsável pela fiscalização de contas. Terminado o pronunciamento os apartes dos senadores foram controversos: os seus companheiros de partido e ala no senado, obviamente que ficaram do seu lado, elogiaram e defenderam o senador.
Penso que um primeiro elemento a ser rememorado para o senador é que a Polícia Federal e o Ministério Público não precisam da "autorização" de ninguém para proceder a investigações.
Até onde assisti, pude salvar os apartes dos senadores Aloizio Mercadante e Eduardo Suplicy (ambos PT-SP) que, mui cordialmente, elogiaram a atitude de antecipação do senador, mas enfatizaram o pedido de cancelamento dos contratos em suspeita, até que vigore a certeza (Mercadante) e até de extinção dessa espécie de contratos de propaganda, já que o Senado dispõe de três grandes veículos de divulgação, amplamente acessados pela população (Suplicy). A isso, Efraim respondeu que se a Justiça não mandou cancelar o contrato, não é necessário fazê-lo, no que comete o impropério de deixar implícita a idéia de que irregularidades não corrigidas exteriormente ou não punidas podem continuar a existir tranqüilamente, ainda que quem as cometa saiba de seu caráter irregular.
A esses, ainda se juntou o senador José Nery (PSOL-RR) para fazer uma crítica mais ampla aos serviços terceirizados dentro do senado e questionar o senador dos DEMO-PB sobre o seu trem da alegria particular no Senado. Efraim realmente foi infeliz nessa resposta, primeiro alegando que o nepotismo não é ilegal, sobre o que poderíamos remeter às mais simples aulas de Ética do Direito, ou até de Direito Consuetudinário: o que é legal não esgota o que é moral, que, por sua vez, não esgota o que é ético. Ou seja, a lei não dá conta da ética. Posturas éticas estão acima de posturas lícitas. Não é porque a lei não se pronuncia sobre determinado caso que o indivíduo deixa de ter uma posição específica sobre o caso. É como se ele dissesse assim: “Meninos, nepotismo não é ilegal. É só imoral!” (?)
No caso em questão, faz parte de uma postura subjetiva do senador defender o patrimonialismo - a tanto tempo, denunciado popular e academicamente; e sugiro para ele e todos a leitura de Os Donos do Poder, de Raymundo Faoro. Além disso, o senador usou a conduta alheia para justificar a própria, identificação peculiar do imaginário, como diria a psicanálise lacaniana. Remetendo ao caso da prefeitura de João Pessoa, cujo prefeito, Ricardo Coutinho (PSB), segundo Efraim, mantém quatro irmãos como secretários ou cargos similares, ele tentou justificar essa conduta provavelmente no Vale do Sabugy, já que ele disse que se falava muito disso “em minha terra”.
Ainda teve a lembrança que o senador Paulo Duque (PMDB-RJ) lhe trouxe de que é atribuição específica do primeiro-secretário, e não de toda a Mesa Diretora, a fiscalização das contas. O que esperar então se quem deveria fiscalizar é o primeiro a, pelo menos, fazer vista grossa para contratos de terceirização de serviços que, além de desnecessários, não passaram por um processo transparente de licitação?
Depois, fiquei enjoado de hipocrisias novelescas e fui ler Bertolt Brecht, e lhes trago uma pitadinha:
NADA É IMPOSSÍVEL DE MUDAR
Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.
3 comentários:
Este é o pior dos políticos que a Paraíba ja viu. Infelizmente ainda a inconsciência política ajuda a eleger pessoas assim. Meu DEUS ajude a abrir a mente desses eleitores. Não a ele, é a melhor maneira de puni-lo.
Imundo, nojento, sem vergonha... Cabe tantos maus adjetivos para este sujeito que provoca um grande desconforto para quem escreve.
Mas ainda há quem defenda essas pessoas, e acho que esse é o problema....
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