Sob um enxoval de fogo o solo ardente
Demonstra que engoliu a trágica semente
Que faz nascer a planta atroz da combustão!
E essa planta se alastra em proporções tamanhas
Cujo fruto vermelho envenena as entranhas
Da terra estorricada ao sol da maldição!
Já não se escuta a voz dos vaqueiros na estrada!
A tétrica aridez da terra calcicada
Confessa a inquietação da prole que padece...
E há sempre pela estrada inóspita e comprida,
Uma criança com fome, um coração sem vida,
Uma cova, uma cruz, um adeus, uma prece!...
O triste fazendeiro imerso na descrença,
Debruçado a pensar sobre a janela imensa
Da casa da fazenda – outrora o sonho seu! –
Contemplando o vulcão a avassalar seu mundo,
Dirige o seu olhar cavernoso e profundo,
Ao rio que secou, ao gado que morreu!...
A pobre preta velha, exausta de fadiga,
Recostada ao varão da bolandeira antiga,
Assiste àquela cena inundada de ambrolhos...
Num gesto de temor que só bondade encerra,
Pede a deus que minore o suplício da terra,
Com tristeza no peito e lágrimas nos olhos!...
A palmeira senil que o vento quente embala,
Alevanta para o alto a cabeleira rala,
Que a chama devastou nas horas infelizes!...
E parece implorar aos céus, na sua mágoa,
Um minuto de paz ou mesmo um pingo d’água,
Que lhe caia na fronde e lhe molhe as raízes...
O solo é um forno aberto, escaldando o suplício
Da gente que carrega a cruz do sacrifício
Na treda rebelião de prantos e escarcéu!
E enquanto sofre um povo atirado ao relento,
Ninguém busca sanar aquele sofrimento
Que começa na terra e termina no céu!
O enorme espelho azul dos tristes céus escampos,
Reflete a solidão intérmina dos campos
Que dorme no sendal da paz desoladora!
Tudo sofre e padece ao fremir da fornalha,
E de encontro ao terror da miséria trabalha
Aquela gente heróica, humilde e sofredora!
A grande procissão dos mártires do Norte,
Como quem deixa a vida à procura da morte,
Anseia por matar os desenganados seus,
Confiantes na extinção da fome que soterra,
Porque no tribunal dos homens sobre a terra,
Não mais existe juiz – pois até deus já morreu.
3 comentários:
Lendo seu texto me emocionei.:)
Que poema doido, meu amigo! Senti o calor de Patos em outubro só de ler.
Sei tão pouco de sua terra, mas enquanto lia, pude imaginá-lo dentro, e à espreita de tal realidade.
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