Quando chegou em San Francisco, o então berço e capital da liberdade, por volta de 1963, Janis era só uma garota esquisita do Sul. Nascida e criada em Port Arthur, Texas, algo como Patos na época, enquanto era tiranizada por seus colegas, familiares e demais habitantes da cidadezinha buscava refúgio fugindo nos fins de semana com um grupo de amigos desordeiros, na maioria negros, para Austin ouvir os cantores de blues, e claro, beber um pouco pra esquecer, man! The fuck dam life.
Chet Helms, um amigo feito durante um frenético período de fugas, havia prometido encontrar a garota perfeita para o vocal feminino do promissor grupo Big Brother and Holding Company. E assim, Janis chegou a eles. O cabelo num rabo de cavalo, jeans e camiseta e um surrado violão folk. The perfect girl! Pensaram Sam Andrews, Dave Getz e James Gurley e riam. As garotas do Big Brother, sobretudo, a mulher de Gurley tentaram dá um jeito em Janis. Como transformar uma garota insegura, desengonçada, do interior numa estrela de rock?
A esposa de Gurley, Nancy, era um visão. O cabelo esvoaçante, enfeitado de flores, o vestido cheio de cores e contas e mais contas no pescoço e nos braços, uma deusa da floresta. Mais tarde, morreria, prematuramente e grávida, de overdose de heroína.
Aquela imagem imprimiu-se na mente provinciana da garota do Texas, que criou um alterego para subir aos palcos; PEARL (as roupas brilhosas, as plumas, o ar glamouroso, a garrafa de Southern Comfort). Este é o título do álbum póstumo de 1971, o mais vendido.
De 63 a 70 foi assim, tomar whisky e drogas para ser maravilhosa e tudo terminar num camarim frio. Durante a gravação do segundo álbum, ela pergunta: "Ainda tenho sotaque texano?"
Em entrevista a David Dalton explicava sua perspectiva:
"Kozmic Blues (álbum solo) quer dizer que não importa o que você faça, não vai ganhar a guerra. Quando eu era criança, as pessoas me diziam que eu era infeliz porque estava na adolescência, mas que um dia ia ficar tudo legal. E eu acreditava. Primeiro achava que quando o homem certo aparecesse, seria a hora, depois que se eu pudesse trepar em paz, depois se eu conseguisse algum dinheiro, etc. Até que um dia, sentada num bar, entendi de repente que nunca ia acontecer nada, que nunca ia ficar legal, que o tempo todo tem alguma coisa errada, sempre, só muda o problema. Não era um prazo de espera, era toda a minha vida...
Não sei se estou sendo insensível se disser que o blues do negro é sempre baseado na falta-de. 'Estou triste porque não tenho mulher, porque não tenho dinheiro, porque não tenho isso ou aquilo'. E não é o que está faltando que faz você infeliz, mas o desejo específico por alguma coisa que não pode conseguir. Não é o nada, o não ter: é o querer"
Indico:
Pearl (1971); Me and Bobby Mcgee, Trust me, My baby.
The Rose (1979) com Bette Midler.
Monterey Pop Festival (1967)
3 comentários:
Muito massa a postagem, ex-Macabéa, agora Rosa. Janis Joplin realmente era de meter medo, em todos os sentidos.
Dizem que quando criança, na escola ela era considerada O Menino mais feio!
hehehe, piadinhas a parte, não conheço nada de Janis, talvez essa seja a oportunidade.
Rosa Macabéa Bovary, ouvi pouquíssima coisa dessa senhorita, mas tenho sempre dela a imagem de alguém tristemente lúcida. Me certifico, agora, disso.
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