sábado, 20 de junho de 2009

Para os insetos

Caros,

Do jeito que as coisas vão o próximo a postar aqui será Gregor Samsa. Alguns dos amigos que costumeiramente escreviam neste espaço estão trabalhando agora num projeto muito bacana (e acrescentaria também "ousado") de iniciativa de João Neto, o Jerimum Beta.

Daqui do Soda, além dele, quem colabora é Rondinelly e José Márcio, embora este me parece que não escreveu nada ainda, mas participou já de um podcast, acho que o primeiro feito pelo saite, gravado exatamente por esses três. Por sinal, ficou bom. Deu pra escutar as vozes de gente que não vejo há quatro meses e isso foi engraçado. Achei que faltou uma menção de que parte do assunto do negócio que eles conversaram foi comentado de passagem por várias pessoas no Soda Cáustica.

Aliás, eles lá assinam com seus os próprios nomes quando aqui tem seus pseudônimos. E aqui está a brincadeira para os curiosos: descubram quem é quem nos dois blogues.

É isso. Vamos esperar Gregor. Tomara que ele consiga usar um computador. Bom, se ele conseguir pelo menos sentar numa cadeira, já foi grande coisa.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Reflexão episódica I

Na parede do banheiro, dentro daquela caixinha, mas não dentro, em cima (já que não havia mais espaço no interior), ele guardava (guardava? mas não estão fora?) duas bisnagas de pasta-de-dente: uma grande e outra pequena. Ora, uma para uso diário comum e outra para levar em viagens esporádicas. Não é o que todos pensam?

Todas as manhãs, ao se aprontar para sair, havia sempre a mesma dúvida angustiante, que apesar de angustiante vinha como um pensamento rápido seguido de uma decisão rápida. Precisava viajar mesmo? Não foi para isso que comprou a menor, durante um daqueles momentos em que inventamos uma necessidade tão descartável quanto o objeto que vemos na prateleira do supermercado? Ele, como todo mundo que alguma vez ou outra vai às compras, sempre olha as mercadorias a partir do "e se...?". "E se precisar viajar, uma viagem rápida?" Pensou ao ter visto a bisnaga pequena na prateleira, "essas que são feitas para viagens, pois menores são mais fáceis de carregar". A confecção do objeto, seu tamanho, design, o conceito no qual foi concebido, sugeriu esse pensamento a ele? Ou foi mesmo o contrário? E se ele pensou e depois o viu? É o cão que abana o rabo ou o rabo que abana o cão?

Essa pergunta não interessa. Mesmo porque ele não possui cachorro em casa. Estamos de novo no banheiro e ele olha sem saber de qual das duas vai espremer na escova a pasta, não interessando mais de que jeito vai ficar, pois desistiu de deixar como na imagem da caixa há muito tempo. "E se precisar viajar...? E se não precisar?" Ele decide, por hoje, e por sempre, que não vai viajar. "Uma viagem esporádica", como pensava, não vai acontecer, então usa da pequena. Usa dessa para acabar logo e assim passar à maior.

"Mas eu vou viajar sim". É o que pensa na manhã seguinte, quando se esquecia da decisão do dia anterior. Agora se apresentava clara a possibilidade de viajar de repente. Usará a maior e poupará a menor para este acaso.

Ocorrerá isso todos os dias, perguntar-se-á qual usará hoje, colocar-se-á diante da dúvida sobre viagem ou não-viagem, mudará a sua compreensão particular dos mistérios das bisnagas de pasta-de-dente, hoje uma coisa, amanhã outra, enquanto existirem as duas em cima do estojo do banheiro.