quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Gilberto Freyre e o tapa na pantera

Essa é uma nota, a nota 73 do capítulo IV, de Casa Grande & Senzala, 50ª Edição (São Paulo: Global Editora, 2005, p. 479), do sociólogo/antropólogo/historiador pernambucano Gilberto Freyre. No corpo do texto no qual a nota é inserida (página 395), o autor trata da incorporação de objetos de culto e de prática religiosos pelos escravos no Brasil, a exemplo de ervas sagradas. Olhem bem como é um Antropólogo, mesmo dos mais (dito) conservadores, na sua pesquisa de campo:


"Entre outras, a erva conhecida no Rio de Janeiro - segundo Manuel Querino - por pungo e por macumba na Bahia; e em Alagoas por maconha. Em Pernambuco é conhecida por maconha; e também, segundo temos ouvido entre seus aficionados, por diamba ou liamba. Diz Querino que o uso de macumba foi proibido pela Câmara do Rio de Janeiro em 1830, o vendedor pagaria 20$000 de multa; o escravo que usasse seria condenado a 3 dias de cadeia. Já fumamos a macumba ou diamba. Produz realmente visões e um como cansaço suave; a impressão de quem volta cansado de um baile, mas com a música ainda nos ouvidos. Parece, entretanto, que seus efeitos variam consideravelmente de indivíduo para indivíduo. Como o seu uso se tem generalizado em Pernambuco, a polícia vem perseguindo com rigor os seus vendedores e consumidores - os quais fumam-na em cigarros, cachimbos e alguns até a ingerem em chás.

Alguns consumidores da planta, hoje cultivada em várias partes do Brasil, atribuem-lhe virtudes místicas; fuma-se ou "queima-se a planta" com certas intenções, boas ou más. Segundo Querino, o Dr. J. R. da Costa Dória atribui-lhe também qualidade afrodisíaca. Entre barcaceiros e pescadores de Alagoas e Pernambuco verificamos que é grande ainda o uso da maconha."

sábado, 14 de novembro de 2009

Nova entrevista com o Prof. João Carlos Cabrío

Semana passada, o emérito Professor João Carlos Cabrío esteve na Unicamp para participar de um evento e aproveitou o ensejo para nos brindar com o lançamento do seu novo trabalho, um compêndio de ensaios sobre as novas produções literárias brasileiras do chamado "mercado editorial independente", intitulado Poesia, pra que te quero? (Editora da Unicamp, 2009, 458 p.)

Da última vez que estivemos em contato, ano passado, o professor Cabrío demonstrou enorme gentileza e concedeu entrevista exlusiva ao Soda Cáustica quando de sua passagem pelo Vale das Espinharas, sertão da Paraíba, cidade de Patos, por onde peregrinava colhendo material para a pesquisa que ora está disponível neste belíssimo livro recém-saído do prelo. O leitor que quiser saber como foi essa entrevista, não espere muito e leia aqui.

Estava, pois, minha pessoa dando sopa em São Paulo quando soube desse evento e decidi dar uma olhada. A curiosidade foi grande em descobrir se o nosso desbravador da literatura das brenhas teria alguma recordação da experiência em Patos. Qual! Bem-humorado, sorridente pela cerimônia de celebração de seu livro, o professor não só se lembrou como me deu a honra de entrevistá-lo outra vez! E as surpresas não param por aí. Acompanhem...

Lau Cariri: Professor, deixe-lhe dizer com que gosto converso novamente consigo.

João Carlos Cabrío: Eu me sinto muito feliz em vê-lo e surpreso também. Vocês andam me seguindo? (Risos)

LC: (Risos) Foi uma coincidência estranha, professor.

JCC: Não vejo seu amigo, ele estava na conversa da outra vez...

LC: Sim, ele está em Patos. Esperava que não se lembrasse, honestamente. Mas me diga, sr. Cabrío, este livro é resultado daquelas pesquisas?

JCC: De fato, é. Foi penoso, mas veio a lume. Mas perceba, não me esqueci jamais. Inclusive, deixe lhe mostrar que coloquei na página dos Agradecimentos o nome de vocês. Não haveria como esquecer... Patos foi extremamente importante para a consolidação das minhas teorias.

LC: (O professor me mostra a página) Obrigado, sr. Cabrío! Em nome de todos que fazemos o Soda Cáustica, eu agradeço! Quanta lisonja! Mas diga, por favor, estou ávido por entender: como foi isso da contribuição de Patos? Foi tão decisiva assim? O que o sr. encontrou lá?

JCC: Foi sim. Por duas grandes razões. A princípio eu poderia dizer que Patos me ensinou que o empenho em analisar a adoção de políticas descentralizadoras facilita a criação do retorno esperado a longo prazo. Isso é salutar para compreender que o cuidado em identificar pontos críticos no acompanhamento das preferências de consumo faz parte de um processo de gerenciamento das posturas dos órgãos dirigentes com relação às suas atribuições. Do lado oposto, mas contribuindo também para a compreensão do problema, é que a consolidação das estruturas estimula a padronização das diretrizes de desenvolvimento para o futuro. Esses fatores foram cabais, modificaram meu modo de lidar na minha pesquisa com a literatura menor como um todo. E eles se encontram lá mesmo, em Patos.

LC: Pelo que entendi, professor, houve um avanço entre as produções no mercado editorial patoense que marca definitivamente essa padronização. Foi isso?

JCC: Perfeitamente, mas não apenas. Eu descobri que, evidentemente, a determinação clara de objetivos promove a alavancagem dos níveis de motivação departamental neste setor.

LC: Ano passado, conversamos detidamente sobre os escritores Wandecy Medeiros, Misael Nóbrega e José Mota Victor. Hoje, tendo o trabalho completo, como ficou sua visão do papel destas obras no contexto da sua pesquisa?

JCC: Acredito que muito desde então se modificou... da outra vez, fui muito severo com o sr. Misael Nóbrega. Lendo melhor seus textos, compreendi que podemos já vislumbrar o modo pelo qual a crescente influência da mídia talvez venha a ressaltar a relatividade do levantamento das variáveis envolvidas. Veja que eu disse talvez, porque afinal, não adianta que a valorização de fatores e subjetivos estimule a padronização das diversas correntes de pensamento se não houver, como contrapartida, o aumento do diálogo entre os diferentes setores produtivos que sempre promove a alavancagem do fluxo de informações. Mas acredito que sua poesia e sua prosa caminhem para importantes posições no estabelecimento das condições inegavelmente apropriadas.

LC: O senhor continua adepto da metodologia bakhtiniana de observação desses fenômenos?

JCC: Boa pergunta. Eu diria que sim e que não. Por exemplo, percebi que, no caso da obra de Wandecy Medeiros, Bakhtin possui limitações claras no auxílio às minhas análises. Wandecy, por apresentar todas as questões poéticas devidamente ponderadas, ele me levanta dúvidas sobre se a crescente influência da mídia representa uma abertura para a melhoria dos relacionamentos verticais entre as hierarquias. Eis o limite de Bakhtin que muitos estudiosos ignoram! Aqui, suas teorias são inválidas para ler as categorias wandecynianas. Nunca é demais lembrar o peso e o significado destes problemas, uma vez que o novo modelo estrutural aqui preconizado pode nos levar a considerar a reestruturação dos modos de operação convencionais. E por isso mesmo eu sigo afirmando o caráter revolucionário da poesia de Wandecy.

LC: Professor, isso é uma guinada significativa em relação à nossa última conversa, não posso deixar de observar. O senhor teve contato com o livro mais novo de Wandecy Medeiros, Mascando Arame Farpado? Se sim, como o enxerga dentro do plano geral da obra do poeta?

JCC: Sim, foi uma guinada, embora eu não abandonei o fato de achá-lo revolucionário. A diferença é que antes a certificação de metodologias que nos auxiliaram a lidar com o aumento do diálogo entre os diferentes setores artísticos era uma das consequências dos procedimentos normalmente adotados. E isto estava errado... ou melhor, incompleto! E, de fato, o contato com o seu novo livro, como você bem lembrou, foi decisivo para entender que minhas teorias engessavam a complexidade da poesia de Wandecy Medeiros. Desta maneira, vi que a determinação clara de objetivos exige a precisão e a definição das condições inegavelmente apropriadas. Foi partindo desse princípio que li o Mascando Arame Farpado, que, para mim, demarca um novo locus nas obras dele, já que o entendimento das metas propostas ressalta a relatividade do sistema de formação de quadros que corresponde às necessidades da expressão poética. Isso foi extremamente novo para mim, devo confessar.

LC: Mas me tire essa curiosidade, professor: onde, então, o sr. permanece fiel a Bakhtin?

JCC: Ora, justamente onde ele aponta que a certificação de metodologias que nos auxiliam a lidar com o aumento do diálogo entre os diferentes setores produtivos é uma das consequências dos procedimentos normalmente adotados pelos escritores. Não resta dúvida. O que eu vejo é que, ainda assim, existem dúvidas a respeito de como a adoção de políticas descentralizadoras causa impacto indireto na reavaliação dos paradigmas corporativos. Mas acredito que isso seja uma questão de tempo de resolver esse impasse teórico.

LC: Professor, faça justiça e comente também sobre sua crítia a José Mota Victor. Não o esqueça, por favor.

JCC: Mas se justamente era aí que eu daria um exemplo de minha fidelidade a Bakhtin... (risos). Percebo que José Mota fornece ainda elementos capazes de fixar a certificação de metodologias que nos auxiliam a lidar com o julgamento imparcial das eventualidades para agregar valor ao estabelecimento das direções preferenciais no sentido do progresso. Aprendi a dar importância a esse aspecto através do pensamento do linguista russo, de quem sou devedor. Mas não deixo de acrescentar o perigo que o teatro de José Mota Víctor corre pois a constante divulgação das informações deve passar por modificações independentemente das regras de conduta normativas, e o texto dramático passou por enormes modificações que precisam ser constantemente revistas pelos autores, inclusive José Mota. Dos três sobre os quais conversamos, ele é o mais volátil. Lembro que sustentei a tese da diferença entre José Mota e Misael Nóbrega naquela época do início da pesquisa. E hoje vejo que estava certo desde sempre. Mas eu confesso que em matéria de teatro, onde José Mota se caracteriza, sou ignorante no assunto. A revolução dos costumes acarreta um processo de reformulação e modernização do processo de comunicação como um todo no teatro e felizmente a poesia ou a prosa não se limitam apenas a isso.

LC: Professor, mais uma vez agradecemos pelas suas esclarecedoras palavras. Esperamos que, como da outra vez, elas forneçam cada vez mais ajuda aos estudiosos da Literatura em Patos. Para fechar, pode nos dizer palavras gerais sobre o seu livro, já que ele estuda inúmeros outros escritores em diversas localidades?

JCC: Sim, é verdade. A pesquisa é abrangente. Olha, acima de tudo, o que busquei dizer foi que é fundamental ressaltar que a mobilidade dos capitais internacionais obstaculiza a apreciação da importância das posturas dos órgãos dirigentes com relação às suas atribuições. Mas que todavia os escritores resistem e continuam a criar. Tentei mostrar isso em diversos níveis. Penso que minha modesta contribuição aos estudos de Literatura reside aí.

LC: Obrigado, professor João Carlos Cabrío. Boa sorte com seu livro.

JCC: Fico feliz em colaborar pela segunda vez com vocês.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Divulgando

Amigos,


Em matéria de preocupação com os gastos públicos, as oposições no Estado de São Paulo estão muito bem aparelhadas. O saite do economista (achei legal ele mesmo escever com "e" minúsculo) Eduardo Marques, que é ligado à Liderança do PT na Assembléia Legislativa, traz uma contribuição àqueles que desejam entender o funcionamento dos gastos públicos do Estado, através de textos bem acessíveis. Eu recomendo (que já foi recomendação da minha adorada amiga Sueli) a todos, mesmo. Acrescento ainda, já que estamos a falar de dinheiro, que não custa nada observar como andam investindo o dinheiro do contribuinte. A Paraíba tem meios que disponibilizam online seus gastos, o uso dos seus e dos meus impostos. Seja pelo sistema do Sagres online, do Tribunal de Contas do Estado, seja pela publicação do Diário Oficial da Paraíba. Eu garanto que, depois de uma certa insistência, o negócio se torna divertido. Já acessei muitas vezes o Sagres. Dá pra saber um monte coisa.

Vocês não tão interessados em ver, não?