sábado, 14 de novembro de 2009

Nova entrevista com o Prof. João Carlos Cabrío

Semana passada, o emérito Professor João Carlos Cabrío esteve na Unicamp para participar de um evento e aproveitou o ensejo para nos brindar com o lançamento do seu novo trabalho, um compêndio de ensaios sobre as novas produções literárias brasileiras do chamado "mercado editorial independente", intitulado Poesia, pra que te quero? (Editora da Unicamp, 2009, 458 p.)

Da última vez que estivemos em contato, ano passado, o professor Cabrío demonstrou enorme gentileza e concedeu entrevista exlusiva ao Soda Cáustica quando de sua passagem pelo Vale das Espinharas, sertão da Paraíba, cidade de Patos, por onde peregrinava colhendo material para a pesquisa que ora está disponível neste belíssimo livro recém-saído do prelo. O leitor que quiser saber como foi essa entrevista, não espere muito e leia aqui.

Estava, pois, minha pessoa dando sopa em São Paulo quando soube desse evento e decidi dar uma olhada. A curiosidade foi grande em descobrir se o nosso desbravador da literatura das brenhas teria alguma recordação da experiência em Patos. Qual! Bem-humorado, sorridente pela cerimônia de celebração de seu livro, o professor não só se lembrou como me deu a honra de entrevistá-lo outra vez! E as surpresas não param por aí. Acompanhem...

Lau Cariri: Professor, deixe-lhe dizer com que gosto converso novamente consigo.

João Carlos Cabrío: Eu me sinto muito feliz em vê-lo e surpreso também. Vocês andam me seguindo? (Risos)

LC: (Risos) Foi uma coincidência estranha, professor.

JCC: Não vejo seu amigo, ele estava na conversa da outra vez...

LC: Sim, ele está em Patos. Esperava que não se lembrasse, honestamente. Mas me diga, sr. Cabrío, este livro é resultado daquelas pesquisas?

JCC: De fato, é. Foi penoso, mas veio a lume. Mas perceba, não me esqueci jamais. Inclusive, deixe lhe mostrar que coloquei na página dos Agradecimentos o nome de vocês. Não haveria como esquecer... Patos foi extremamente importante para a consolidação das minhas teorias.

LC: (O professor me mostra a página) Obrigado, sr. Cabrío! Em nome de todos que fazemos o Soda Cáustica, eu agradeço! Quanta lisonja! Mas diga, por favor, estou ávido por entender: como foi isso da contribuição de Patos? Foi tão decisiva assim? O que o sr. encontrou lá?

JCC: Foi sim. Por duas grandes razões. A princípio eu poderia dizer que Patos me ensinou que o empenho em analisar a adoção de políticas descentralizadoras facilita a criação do retorno esperado a longo prazo. Isso é salutar para compreender que o cuidado em identificar pontos críticos no acompanhamento das preferências de consumo faz parte de um processo de gerenciamento das posturas dos órgãos dirigentes com relação às suas atribuições. Do lado oposto, mas contribuindo também para a compreensão do problema, é que a consolidação das estruturas estimula a padronização das diretrizes de desenvolvimento para o futuro. Esses fatores foram cabais, modificaram meu modo de lidar na minha pesquisa com a literatura menor como um todo. E eles se encontram lá mesmo, em Patos.

LC: Pelo que entendi, professor, houve um avanço entre as produções no mercado editorial patoense que marca definitivamente essa padronização. Foi isso?

JCC: Perfeitamente, mas não apenas. Eu descobri que, evidentemente, a determinação clara de objetivos promove a alavancagem dos níveis de motivação departamental neste setor.

LC: Ano passado, conversamos detidamente sobre os escritores Wandecy Medeiros, Misael Nóbrega e José Mota Victor. Hoje, tendo o trabalho completo, como ficou sua visão do papel destas obras no contexto da sua pesquisa?

JCC: Acredito que muito desde então se modificou... da outra vez, fui muito severo com o sr. Misael Nóbrega. Lendo melhor seus textos, compreendi que podemos já vislumbrar o modo pelo qual a crescente influência da mídia talvez venha a ressaltar a relatividade do levantamento das variáveis envolvidas. Veja que eu disse talvez, porque afinal, não adianta que a valorização de fatores e subjetivos estimule a padronização das diversas correntes de pensamento se não houver, como contrapartida, o aumento do diálogo entre os diferentes setores produtivos que sempre promove a alavancagem do fluxo de informações. Mas acredito que sua poesia e sua prosa caminhem para importantes posições no estabelecimento das condições inegavelmente apropriadas.

LC: O senhor continua adepto da metodologia bakhtiniana de observação desses fenômenos?

JCC: Boa pergunta. Eu diria que sim e que não. Por exemplo, percebi que, no caso da obra de Wandecy Medeiros, Bakhtin possui limitações claras no auxílio às minhas análises. Wandecy, por apresentar todas as questões poéticas devidamente ponderadas, ele me levanta dúvidas sobre se a crescente influência da mídia representa uma abertura para a melhoria dos relacionamentos verticais entre as hierarquias. Eis o limite de Bakhtin que muitos estudiosos ignoram! Aqui, suas teorias são inválidas para ler as categorias wandecynianas. Nunca é demais lembrar o peso e o significado destes problemas, uma vez que o novo modelo estrutural aqui preconizado pode nos levar a considerar a reestruturação dos modos de operação convencionais. E por isso mesmo eu sigo afirmando o caráter revolucionário da poesia de Wandecy.

LC: Professor, isso é uma guinada significativa em relação à nossa última conversa, não posso deixar de observar. O senhor teve contato com o livro mais novo de Wandecy Medeiros, Mascando Arame Farpado? Se sim, como o enxerga dentro do plano geral da obra do poeta?

JCC: Sim, foi uma guinada, embora eu não abandonei o fato de achá-lo revolucionário. A diferença é que antes a certificação de metodologias que nos auxiliaram a lidar com o aumento do diálogo entre os diferentes setores artísticos era uma das consequências dos procedimentos normalmente adotados. E isto estava errado... ou melhor, incompleto! E, de fato, o contato com o seu novo livro, como você bem lembrou, foi decisivo para entender que minhas teorias engessavam a complexidade da poesia de Wandecy Medeiros. Desta maneira, vi que a determinação clara de objetivos exige a precisão e a definição das condições inegavelmente apropriadas. Foi partindo desse princípio que li o Mascando Arame Farpado, que, para mim, demarca um novo locus nas obras dele, já que o entendimento das metas propostas ressalta a relatividade do sistema de formação de quadros que corresponde às necessidades da expressão poética. Isso foi extremamente novo para mim, devo confessar.

LC: Mas me tire essa curiosidade, professor: onde, então, o sr. permanece fiel a Bakhtin?

JCC: Ora, justamente onde ele aponta que a certificação de metodologias que nos auxiliam a lidar com o aumento do diálogo entre os diferentes setores produtivos é uma das consequências dos procedimentos normalmente adotados pelos escritores. Não resta dúvida. O que eu vejo é que, ainda assim, existem dúvidas a respeito de como a adoção de políticas descentralizadoras causa impacto indireto na reavaliação dos paradigmas corporativos. Mas acredito que isso seja uma questão de tempo de resolver esse impasse teórico.

LC: Professor, faça justiça e comente também sobre sua crítia a José Mota Victor. Não o esqueça, por favor.

JCC: Mas se justamente era aí que eu daria um exemplo de minha fidelidade a Bakhtin... (risos). Percebo que José Mota fornece ainda elementos capazes de fixar a certificação de metodologias que nos auxiliam a lidar com o julgamento imparcial das eventualidades para agregar valor ao estabelecimento das direções preferenciais no sentido do progresso. Aprendi a dar importância a esse aspecto através do pensamento do linguista russo, de quem sou devedor. Mas não deixo de acrescentar o perigo que o teatro de José Mota Víctor corre pois a constante divulgação das informações deve passar por modificações independentemente das regras de conduta normativas, e o texto dramático passou por enormes modificações que precisam ser constantemente revistas pelos autores, inclusive José Mota. Dos três sobre os quais conversamos, ele é o mais volátil. Lembro que sustentei a tese da diferença entre José Mota e Misael Nóbrega naquela época do início da pesquisa. E hoje vejo que estava certo desde sempre. Mas eu confesso que em matéria de teatro, onde José Mota se caracteriza, sou ignorante no assunto. A revolução dos costumes acarreta um processo de reformulação e modernização do processo de comunicação como um todo no teatro e felizmente a poesia ou a prosa não se limitam apenas a isso.

LC: Professor, mais uma vez agradecemos pelas suas esclarecedoras palavras. Esperamos que, como da outra vez, elas forneçam cada vez mais ajuda aos estudiosos da Literatura em Patos. Para fechar, pode nos dizer palavras gerais sobre o seu livro, já que ele estuda inúmeros outros escritores em diversas localidades?

JCC: Sim, é verdade. A pesquisa é abrangente. Olha, acima de tudo, o que busquei dizer foi que é fundamental ressaltar que a mobilidade dos capitais internacionais obstaculiza a apreciação da importância das posturas dos órgãos dirigentes com relação às suas atribuições. Mas que todavia os escritores resistem e continuam a criar. Tentei mostrar isso em diversos níveis. Penso que minha modesta contribuição aos estudos de Literatura reside aí.

LC: Obrigado, professor João Carlos Cabrío. Boa sorte com seu livro.

JCC: Fico feliz em colaborar pela segunda vez com vocês.

2 comentários:

Coronel Venâncio Braga disse...

Admiro muito o trabalho do Prof. João Carlos Cabrio, pois o acompanhamento das preferências de consumo apresenta tendências no sentido de aprovar a manutenção das condições inegavelmente apropriadas. Por outro lado, a hegemonia do ambiente político cumpre um papel essencial na formulação do remanejamento dos quadros funcionais. A nível organizacional, a determinação clara de objetivos exige a precisão e a definição do sistema de participação geral. Assim mesmo, a estrutura atual da organização prepara-nos para enfrentar situações atípicas decorrentes das posturas dos órgãos dirigentes com relação às suas atribuições. Do mesmo modo, o novo modelo estrutural aqui preconizado garante a contribuição de um grupo importante na determinação de todos os recursos funcionais envolvidos.

Até mais.

Lau Cariri disse...

Já chegou o livro dele aí, foi? E tu já leu, Coronel?