Não quero me queixar de orelha em orelha
Ficar parado se quem me agrada se afasta
Negar o reflexo que deixo em meu espelho
Nem guardar rancor entre as sobrancelhas
Não quero guardar tantos segredos
Nem estar representado num quadro grotesco
Como os Montéquio e os Capuleto
Não quero em tua idade ficar obsoleto
Nem perder o vigor, nem dizer sem rigor
Que todo tempo passado sempre foi melhor
Nem chegar em minha casa transtornado e abatido
Não quero estar cansado de carregar a mim mesmo
E mesmo que esta verdade possa doer
Tenho que dizê-la, sem compaixão
Mas se ofendo, peço perdão
Quando eu for grande, não quero ser como o senhor
Não quero cometer teus mesmos erros
Nem acreditar que todos são enganadores
Não quero manejar teus mesmos valores
Nem que cada dia seja igual aos anteriores
Não quero não poder controlar meus humores
Nem carregar essa tristeza nos olhos
Molhados e vermelhos, murchos e frouxos
Não quero resignar-me a ser os meus despojos
Nem lançar com veemência a culpa aos outros
Daquilo que é minha incumbência e responsabilidade
Nem que me permita fazer em alguma idiotice
O que não pude fazer quando tive 23
E mesmo que esta verdade possa doer
Tenho que dizê-la, sem compaixão
Mas se ofendo, peço perdão
Quando eu for grande, não quero ser como o senhor
Não quero que nada mais me provoque prazer
Nem quando a dor me toque me evoque o passado
Nem olhar fotos velhas e me pôr a chorar
Ou que digam o nome de alguém e eu comece a tremer
Não quero levar essa vida maltratada
Com suspeitas de culpa e ilusão desfeita
Nem lançar pestes como se fosse Apolo
Nem que me machuque em algumas datas estar só
E mesmo que isto seja mal interpretado
Não quero que creiam que é apenas por criticar
E espero que seja somente uma declaração
Porque nem eu sei se quero que queiras ser como eu
E mesmo que esta verdade possa doer
tengo que dizê-la, sem compaixão
Mas se ofendo, peço perdão
Quando eu for grande, não quero ser como o senhor
Roberto Musso
Nenhum comentário:
Postar um comentário