sexta-feira, 2 de maio de 2008

Pars I: Quidquid latine dicitum sit, altum uidetur

(Parte I: o que quer que tenha sido dito em latim parece imponente)

Olá, seja você quem for. Eu sou o Magister Ludi. Bem-vindo a nossa primeira aula de língua latina pela internete. Uma co-produção da equipe do Soda Cáustica e do departamento de línguas clássicas da... Bom, isso não vem bem ao caso. O fato é que, como você já deve estar sabendo, o objetivo deste curso tem em vista o ingresso do estudante no universo deste idioma antigo só que pela porta dos fundos, ou seja, pelo modo de falar do povão romano, sobretudo, claro, naquelas horas em que ele está totalmente injuriado e quer mesmo é botar pra quebrar. Assim, este curso é direcionado exatamente pra você que detesta Seu Fulano de Tal que não perde a oportunidade de demonstrar seus parcos conhecimentos de língua latina e sai sempre com uma do tipo: “ah – qualquer que seja a palavra –, do latim...” Faça-me o favor.

O curso será dividido em duas partes das quais, a primeira, tratará da apresentação de todas as informações que eu julgar necessárias ao bom uso do vocabulário que você então ficará de posse na segunda parte do curso. Além disso, o vocabulário virá acompanhado de um breve comentário – já que naquele tempo, nem todas as palavras eram usadas como hoje – e de toda sorte de exemplos que possam facilitar a aprendizagem deste lado do idioma do Lácio infelizmente negligenciado pelos professores. Agora, chega que enrolação e vamos logo à aula!


Se você ainda não sabe, caro aluno, ou aluna, o latim é escrito por meio de um alfabeto muito, muito conhecido chamado... alfabeto latino. Isso mesmo! Aquele com o qual aprendemos a escrever o português – só que, claro, no século I antes de Cristo, período em que este idioma estava realmente bombando, ele não era exatamente o mesmo que nós conhecemos hoje. Primeiro porque naquela época não havia letras minúsculas, coisa que só apareceu na Idade Média; nem, por não existirem os fonemas correspondentes, as letras “v” e “j”, adicionadas a ele pelo francês Pierre de la Remée só lá pelo século XVI. Por fim, mas não necessariamente nesta ordem, o “y’ e o “z” surgiram para que fossem traduzidas algumas palavras advindas do grego, e a letra “k”, que já existia bem antes disto, era como se não existisse – parece que ninguém ligava muito pra ela. Hoje, as escolas que ainda se prestam a dar aulas de latim não abrem mão das minúsculas e, em alguns casos, também não do uso do “v” e do “j”, ou de pelo menos uma delas. Por nossa vez, optamos não adotar aqui estas letras, mantendo-nos assim o mais fiel possível ao tempo daqueles caras esquisitões que usavam vestidos, sandálias de dedo e adoravam ver homens massacrando uns aos outros no circus até a morte.

Abecedarium latinum
A,a (ā) – B,b (bē) – C,c (kē) – D,d (dē) – E,e (ē) – F,f (ēf) – G,g (guē) – H,h (rā) – I,i (i) – K,k (kāppa) – L,l (ēl) – M,m (ēm) – N,n (ēn) – O,o (ō) – P,p (pē) – Q,q (qu) – R,r (ēr) – S,s (ēs) – T,t (tē) – V,u (u) – X,x (ix) – Y,y (üpsilon) – Z,z (dzēta)

Como não quero tornar você um profundo conhecedor deste idioma, as questões relativas à pronúncia dele serão resolvidas com a transcrição das palavras latinas à portuguesa, sempre que houver necessidade. No entanto, o latim é uma língua cheia de esquisitices e por isso mesmo vamos enumerar aqui as mais importantes para o nosso curso. Em primeiro lugar 1) o fato de ele, o latim, não admitir artigo, qualquer que seja, definido ou indefinido; 2) de não possuir pronome pessoal do caso reto para as terceiras pessoas, do singular ou do plural; 3) de, diferente do português, seus substantivos poderem ser masculinos, femininos ou neutros; e 5), por fim, de os pronomes pessoais do caso reto que existem só precisarem aparecer na frase relacionados a algum verbo, caso o falante queira enfatizá-lo. Mas e se você quiser enfatizar uma terceira pessoa, o que deve fazer? Bom, neste caso, você poderá usar um demonstrativo pra isto, como veremos mais adiante.

Outra coisa estranha é que a ordem das palavras nas frases do latim não é tão determinada quanto a do português. No entanto, há um modelo-base com o qual nós podemos nos apegar. Qualquer “violação” a esse modelo deverá ser assim guiada pelo intuito, por parte de quem está se expressando, de enfatizar algum termo em especial. Neste caso, o termo escolhido deve vir antes dos demais, seguindo uma espécie de ordem de importância.

Modelo da frase latina
Sujeito – Verbo de ligação – Predicativo do Sujeito

Ex.: Marcos é um idiota. Um idiota Marcos é. Marcos um idiota é. Um idiota é Marcos.
(acima, você tem a frase segundo o modelo e, a seguir, ela de outras maneiras possíveis, em latim, claro)

Por fim, meu caro aluno, ou aluna, será importantíssimo que você tenha na ponta da língua o verbo latino Esse (na pronúncia o “e” final não pode ter m de “i” jamais) que equivale aos nossos ser/estar. Então, fica aí sua primeira, e uma das poucas, obrigações: decorar o verbo Esse no indicativo presente. Então, até a próxima!

Verbo Esse (ser/estar)
Singular: [ego] sum – [tu] esest
Plural: [nos] sumus – [uos] estissunt

PS.: lembre-se: os pronomes latinos equivalentes aos nossos do caso reto só precisarão aparecer numa frase se, e somente se, você quiser enfatizá-los. Caso contrário, não.

Ex.: eu sou = sum / EU sou = ego sum
(e assim por diante com os demais)

3 comentários:

Anônimo disse...

Aí professor!
Ótima idéia a sua. Tô contigo heim!!

Anônimo disse...

Como é que se diz "Esse curso é do caralho!" em latim?

Anônimo disse...

Olá, Magister! Estou gostando p'ra caralho das aulas! Sinto como diante de ti, quando estou aí no sertão! a diferença é que estou diante de um computador e ele nem gesticula, nem usa um fundo de garrafa! (risos).
Espero que se prossigam as aulas e que você não apague as anteriores, pois estou salvando, ok?
Até a próxima!
A propósito, eu posso me utilizar da preposição "in" para dar um sentido de "dentro", "meter dentro"?
Por exemplo: Verpa mea in cullus teus, eu posso fazer isso?